sexta-feira, 31 de outubro de 2008

NOVO ESTÁGIO DE VIDA DO JORNALISTA NELSON FRANCISO

O poeta Álvares de Azevedo disse através da poesia que: “A morte é a mais leviana de todas as prostitutas”. Hoje é um dia lúgubre para mim. Ainda não fez sentido, a fatídica notícia, que acabei de receber. Morreu o jornalista boquinense Nelson Francisco dos Santos. Estou perplexo! Petrificado, procurando entender o inexplicável sentido da morte. Como pode uma pessoa tão jovem, tão bonita, tão cheia de vida, portadora de um grande talento comunicativo nos deixar órfão? Órfão de seu largo, belo e enigmático sorriso.
Conheci Nelsinho, em meados dos anos 80, eu já seminarista, e ele coroinha da Paróquia Sant´Ana, na cidade de Boquim, interior sergipano. Sempre prestativo e fazedor de amigos, logo conquistou a todos e deixou sua marca indelével por onde passou. A última vez que estive com Nelsinho, foi no final dos anos 90, depois desse nosso reencontro, ele morando em Cuiabá e eu no Rio de Janeiro, somente houve contato entre nos dois por telefone e por correspondência. Neste instante lembrei-me de uma estrofe de uma música do maestro Antônio Carlos Jobim: “Breve é a vida, longa é a arte”. Eu acho que é este o sentido, que encontrei para minimizar a dor da perder irreparável. A breve vida de Nelsinho será prolongada através da sua arte de comunicação. Talvez nada disso que escrevi faz sentido, se assim for não estou triste, porque também a morte não faz sentido. Sendo assim, tudo não passou de um novo estágio de vida para Nelsinho.
Para fazer uma tradução da minha sensação no momento, coloquei em poesia, todo o abstrato da morte de um ante querido. Porque assim como a poesia, a morte não é óbvia.

CONSCIÊNCIA ABSTRATA

A vida construída e vivida em roda-gigante
Com sorriso largo que abrange.
As palavras publicadas
Eram-lhe sagradas
De forma
Contemplada.
Mesmo para quem se foi
Encontra-se
Acha-se aqui presente
Para perpetuar
O que estava escrito
E nunca deixá-lo de ama.


In memorian Nelson Francisco dos Santos

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

ARGUMENTO E ROTEIRO DO CURTA-METRAGEM: JÁ VI ESSE FILME

Este roteiro, da minha autoria, foi desenvolvido em setembro de 2006, porém, somente no dia 10 de outubro de 2008 é que recebemos o patrocínio de incentivo cultural para ser filmado. As gravações começaram em novembro/08. De antemão apresento a vocês o que brevemente vocês assistiram nos cinemas através de: imagens, falas e sons.

ARGUMENTO
O curta Já Vi Esse Filme, tem como cenário a cidade de Três Rios, interior do Estado do Rio de Janeiro. E como decurso de ação está o falecimento do poeta, ex-vereador e professor Otto Diniz.
O plot começa quando a família (Esposa e filho) descobre, que não detém de nenhum recurso financeiro para fazer o enterro do professor. Após várias negativas das pessoas procuradas no intuito de receber ajuda para o funeral, a família resolve vender o único bem valioso deixado pelo falecido: os livros.
Quando o livreiro Hermes (Proprietário da Livraria & Sebo) chega na casa do falecido para comprar os livros, e se depara com o corpo inerte em cima da cama, e ao perceber, que se trata do professor Otto Diniz, decide fazer com que toda cidade de Três Rios, reconheça a grande importância do professor Otto Diniz para a cidade, como o maior benfeitor de todos os tempos.
De repente, através dos esforços do livreiro Hermes, todos os tririenses, tomam conhecimento do legado político e social deixado pelo professor Otto Diniz, e a população inteira lhe presta a última homenagem.

ROTEIRO
CENA 01
TRÊS RIOS – TAKES VARIADOS/ EXT./ MANHÃ
- Depois de a câmera mostrar o Rio Paraíba cheio e violento, vêem-se outros pontos importantes da cidade: Prefeitura, com as bandeiras do Brasil, do Estado, e do Município hasteadas, Câmera Municipal e Monumentos Históricos. A imagem mostra o relógio da igreja Matriz de São Sebastião, marcando 6h30min.(Ouvem-se em off, badaladas do sino). Vêem-se carolas, com terços nas mãos, entrando na igreja para assistirem à missa da manhã. Na Av. Condessa do Rio Novo mostra um movimentado fluxo de veículos nos dois sentidos. É dado close nas legendas do destino dos ônibus coletivos ( Purys – Moura Brasil – Pilões – Jaqueira – Morada do Sol - Ponte das Garças e outros bairros). Vêem-se pessoas entrando, saindo dos ônibus. De repente, ouve-se (em off) um anúncio fúnebre – “ Os familiares, esposa, filho e amigos de Otto Diniz, professor, escritor, poeta e ex-vereador de Três Rios, convidam a população tririense para o seu sepultamento hoje, às 16hs no cemitério municipal. O féretro sairá da sua residência na rua Cândido Portinári,1903. Desde já, agradecem a todos os que comparecerem a esse ato de fé e piedade Cristã.” – A câmera mostra o semáforo mudando o sinal verde para o vermelho. Em seguida, vê-se o fusca da empresa “Sonorizações Bello”, parado, esperando o sinal abrir, repetindo o anúncio fúnebre. Em close vê-se o motorista do fusca falando ao celular.
CORTE
CENA 02
ENTRADA PRINCIPAL DA “GALERIA CENTRAL” / INT./MANHÃ
- Hermes entra na “Galeria Central” (identificar o lugar pelo painel), vai direto a portaria recolher correspondências no escaninho.
Porteiro 1
(Gordo,demostrando cordialidade) __ Bom dia, seu Hermes!
Hermes
(Vestido socialmente com uma pasta na mão, também demonstra cordialidade)__ Bom dia! (Retirando as correspondências) Espero que o dia de hoje seja tão bom quanto foi o dia de ontem, tanto no campo profissional como no pessoal. Desejo isso pra mim e pra você.
- O porteiro agradece a gentileza, e Hermes sai em direção a sua Livraria & Sebo. Passa pela dona do restaurante da galeria (cumprimenta-a com um bom dia), em seguida passa por um casal, também cumprimenta-os, toma a esquerda e desaparece.
- A imagem continua no corredor, mostrando o encontro da dona do restaurante com sua funcionária. As duas levantam a porta de ferro do restaurante e entram e abaixam a porta.
CORTE
CENA 03
CORREDOR DA “GALERIA CENTRAL” ONDE FICA A LIVRARIA/INT./MANHÃ
- Vê Hermes, de costas, se dirigindo à Livraria. A câmera, em close mostra o Gullar andando de um lado para o outro em frente à Livraria. Muito tenso, fumando, demonstra nitidamente um descontrole emocional. Vendo Hermes colocando a chave para abrir a porta, Gullar se dirige a ele depois de jogar o cigarro na lata de lixo. Uma pessoa fala no orelhão ao lado da Livraria.
Gullar(Falando de forma nervosa) __ Seu Hermes?
Hermes
(Parando o que estava fazendo) ___ Sim. Em que posso servi-lo, meu jovem?
Gullar
___O senhor tá comprando livros usados?
Hermes
___ Claro, como você pode ler o letreiro (mostra o letreiro, apontando com o dedo, e lê em voz alta) Livraria & Sebo Palavrador: Compramos * Vendemos * Trocamos e Alugamos livros novos e usados. Não estou certo?... Agora, diga-me que livro você tem pra vender? (Faz essa pergunta, de costas para Gullar, enquanto levanta a porta).
Gullar
__ O que eu tenho não é um livro, são vários livros, mais ou menos 2000(dois mil) livros, mais um tanto de fitas de vídeo e outro de disco em vinil.
- Os dois, já na parte de dentro da livraria. A segunda porta continua fechada. Hermes liga o interruptor das luzes da loja. A câmera dá uma geral da livraria.
Hermes
(Olhando Gullar de cima para baixo) __ Como é mesmo seu nome, meu jovem?
Gullar
__Gullar senhor! (Impaciente)
Hermes
___ Gullar, você não me parece ter idade suficiente para ter lido tantos livros assim...estou certo? Espere aí, não me diga que você subtraiu de alguém esses livros.
Gullar
___Não... Esses livros eram (choroso, close nos olhos lacrimejados ) do meu pai. Ele morreu e, para mim, os livros não têm nenhuma serventia... Estou precisando de dinheiro. (Enxugando as lágrimas com as mãos)
Hermes
__ Perdão pelo meu comentário descabido (Sem jeito). Mas não se apavore. Você não é o primeiro nem será o último, que vende os livros deixados pelo pai que morreu. Quase todo dia vejo esse filme. Estou certo? Acredite, muitos jogam até fora... no lixo. Você, vendendo-os, com certeza eles serão bem aproveitados. Você me vende e eu vendo para outras pessoas. É assim que funciona o negócio.
Gullar
___ Então, eu posso trazer os livros para o senhor comprar?
Hermes
___Calma rapaz, o melhor é fazermos o seguinte: eu vou até a sua casa. Lá, faço a avaliação dos livros e, se o valor oferecido por mim estiver dentro de suas expectativas, eu pago na hora.
Gullar
(Assustado) Ir a minha casa? Hoje? Agora?
Hermes
___Sim, isso mesmo que você ouviu. É preciso que eu veja a conservação dos livros, para poder avaliar com justiça... Há algum problema em eu ir a sua casa? Se você esperar um pouco... o tempo de eu acabar de abrir a livraria e esperar minha funcionária chegar, eu vou com você até sua casa. Pode ser?
Gullar
____É que eu tenho que resolver isso antes das 10h.
Hermes
(Olhando para o relógio na parede da livraria) ___ São 8h. Dá tempo suficiente. Mas me diga uma coisa: Como se chama seu falecido pai?
- A conversa é interrompida pelo toque da campanhia do telefone. Por esse motivo Gullar não responde a perguntar de Hermes, que sai para atender o telefone. Enquanto Hermes vai atender o telefone Gullar sai da loja e fica do lado de fora fumando.
Hermes
(Ao telefone) __ Livraria & Sebo Palavrador. Bom dia... Oi, Amanda, pode falar, estou te ouvindo... Não há problema algum você chegar atrasada, eu seguro as pontas aqui. Estou certo? Fica tranqüila. O importante é a saúde da sua mãe. Estou certo? Tá bem... apresente meus votos de melhoras pra sua mãe. Estou certo?
- Hermes coloca o telefone no gancho e procura por Gullar. Não o encontrando, resolve abrir a outra porta da livraria. Levantando a porta, vê Gullar falando ao telefone do orelhão, nervoso e fumando. A imagem mostra Hermes ligando os computadores e, de repente, entra Gullar.
Gullar
____ Liguei pra minha mãe, e ela falou que o senhor pode ir ver os livros. Precisamos urgentemente do dinheiro.
Hermes
(Interrompendo Gullar) ___ Meu jovem, todo mundo precisa de dinheiro, estou certo? É o dinheiro, e sempre foi e sempre será a mola mestra que rege o homem. Porém você terá que esperar até as 9h...estou certo? - pois minha funcionária acabou de ligar, avisando que se atrasará, em virtude de a mãe dela amanhecer passando mal. Ela terá que aguardar a chegada da irmã dela, que fará companhia à moribunda. Estou certo? Infelizmente (pegando um bloco de anotações para anotar o endereço de Gullar), você vai ter que me aguardar em sua casa... Anote aqui o seu endereço por favor.
Gullar
(Escrevendo o endereço) ___ É, não tem outro jeito né? Vou esperar o senhor às 9hs na minha casa.(Entregando-lhe o papel) Aqui está o endereço.
Hermes
___Combinado... às 9hs impreterivelmente, estarei lá. (Olhando o endereço)
CORTE
CENA 04
A FRENTE DO CAMELÓDROMO/EXT./MANHÃ
- A câmera faz o panorama de um céu infinitamente azulado; depois, a imagem vem descendo devagar. Em seguida, vê a parte de uma casa de construção antiga, de muro baixo. Falando ao celular, encostada no muro, está D. Cecília, a mãe de Gullar. Ele chega, abre o pequeno portão e entra, e fica esperando a mãe acabar com a conversa pelo telefone.
Cecília
___ Então tá. Peço desculpas por ter encomodado o senhor. (Depois de desligar o aparelho de celular). E aí, meu filho, cadê o homem que vinha com você para comprar os livros?
Gullar
___O dito cujo só vai poder vir às 9hs. Aconteceu um imprevisto com a funcionária dele. Portanto, somente às 9h. E a senhora conseguiu alguma ajuda?
Cecília
___Que nada! (Mostrando o celular) Já liguei pra Deus e pro mundo, e nada. Todo mundo falou que sente muito com a morte de Otto, mas não pode ajudar financeiramente as despesas fúnebres. A minha última saída é vender os livros. Acredito que essa quantidade de livros dê, pelo menos, pra pagar o caixão.
Gullar
(Chorando) ___É lamentável que um homem da grandeza do meu pai... se acabe assim... Pra ser enterrado, temos que mendigar um caixão. Ele não merece isso, mãe. (Os dois se abraçam)
Cecília
___Eu sei, meu filho. Ele vai ser enterrado com toda a dignidade que ele merece. Eu lhe prometo.
CORTE
CENA 05
LIVRARIA & SEBO PALAVRADOR/ INT. / MANHÃ
- A câmera mostra a Livraria & Sebo Palavrador. A imagem começa a partir de um “cliente” no computador, usufruindo do serviço de Internet. Depois, no balcão de atendimento vê Hermes, colocando um livro na bolsa (Close no livro), em seguida chega uma cliente com outro livro na mão.
Cliente Um(Uma senhora de uns 40 anos, vestida elegantemente) ___ Eu também vou levar esse outro livro (Close no livro). Por gentileza, pode colocar os dois juntos. Vou pagar com cartão. (Abrindo a bolsa para pegar o cartão de crédito)
Hermes
(Depois de passar o cartão na máquina) ___ Assina aqui, por favor. (Depois de assinar o comprovante, a cliente um sai da livraria. Logo depois, aproximam-se de Hermes duas estudantes de 15 anos, uniformizadas, pedindo informação sobre o Cyber Café)
Estudante Um
(Mascando chiclete) ___Aqui tem serviço de Cyber Café?
Hermes
___Prestamos, sim, esse serviço. Estou certo?
Estudante Dois
(Espevitada) __Como funciona? Qual o tempo mínimo e o máximo de aluguel? É via rádio?
Hermes
___Calma, vamos devagar com o andor. Estou certo? Você faz muitas perguntas, menina. Estou certo? O que eu posso dizer a você é que, no momento, o computador está ocupado (Aponta para o usuário). O tempo mínimo é de meia hora, e o máximo é o tempo que o usuário quiser e tiver dinheiro pra pagar. (Um riso desconcertante)
Estudante Dois
(Mostrando o rapaz com a cabeça)___ Ele vai demorar muito?
Hermes
___Como lhe disse, o tempo que o usuário achar necessário. Estou certo?
Estudante Um
(Puxando a colega pelo braço) ___Tá certo. Mais tarde, a gente volta. Estou certa? (As duas vão embora rindo e conversando entre si)
- A livraria está com cinco figurantes. Uns olham CD’s e DVD’s, outros folheiam livros. A câmera mostra a entrada do cliente dois (Um professor de literatura com uma pasta em uma das mãos e várias provas de alunos pra corrigir na outra mão).
Cliente Dois
(Demostrando bom humor, falantes, os dois amigos demonstram cordialidade entre eles) ___Bom dia, Hermes! E o livro que encomendei já chegou?
Hermes(Meio distante e preocupado) ___Qual foi mesmo? Ah! já me lembrei. É o livro do Patativa do Assaré. Estou certo? Já, sim (Hermes pegou o livro em uma prateleira). Está aqui. (Close no livro) Demorou um pouco, porque isso aqui é uma preciosidade pois o que é precioso é raro. Estou certo?
Cliente Dois
(Colocando mais coisas em cima da cadeira) ___ Você está sempre certo, Hermes! Olha só que maravilha(Folheando o livro, escolhe uma poesia e declama). “Com o Grito do dinheiro, a Justiça não se apruma.”
- Todos os presentes, na livraria, batem palmas. O Cliente Dois percebe uma aflição no semblante de Hermes.
Cliente Dois
___Queira perdoar minha indelicadeza, Hermes, mas noto que algo o está preocupando... Posso ajudá-lo?
Hermes
___Acho que não, conterrâneo. Amanda... ainda não chegou. Já passa das 9h (Olha para o relógio na parede, que marca 9h). Tenho um compromisso às 9hs. Aliás tinha às 9h. Estou certo?
Cliente Dois
___Realmente, não posso ajudá-lo, tenho aula às 9h30min... Não vou poder ficar aqui para você ir ao seu compromisso. Mas por que você não liga para o celular dela, para saber o que está acontecendo.
Hermes
___É o que vou fazer. Mas, antes, deixe acabar de atendê-lo. (Hermes vai até o computador fazer a consulta de preço do livro, mostra o valor ao cliente dois. Este retira o talão de cheque da bolsa e preenche, enquanto Hermes coloca o livro na sacola. O Cliente Dois lhe entrega o cheque e Hermes lhe dá a sacola com o livro. Despendem-se, e o Cliente Dois vai embora. Em seguida, Hermes liga para o celular de Amanda. Ouve o sinal da chamada).
CORTE
CENA 06
TRAVESSIA DO TREM NA LINHA FÉRREA /EXT./MANHÃ
- A imagem começa com a amplidão dos arcos no camelódromo. Vê pessoa conversando no local. Ouve sempre o barulho (Em off) provocado pela passagem do trem. Depois, a câmera acompanha a passagem dos vagões. Afastando a câmera para trás, vê carros, ônibus, motos e pedestres aguardando a vez para fazer a travessia. Alguns pedestres, impacientes, fazem a travessia pela passarela de ferro. Com o término da passagem do trem, a câmera mostra em primeiro plano as pessoas, carros que aguardavam do outro lado. Acontece, nesse momento, um entrosamento dos dois lados. Entre as pessoas, está a Amanda, que procura seu celular, que toca insistentemente, na bolsa.
Amanda
(Falando no celular e com passos apressados) ___ Seu Hermes... (Identificando quem era, pela bina do celular) já estou aqui pertinho... me atrasei mais, porque o trem achou de passar justo agora.
CORTE
CENA 07
A FRENTE DA CASA NA RUA CÂNDIDO PORTINÁRIO/EXT./MANHÃ
- Vê Hermes parando o carro em frente à casa. Desce e tranca a porta do veículo. Procura nos bolsos algo; retira do bolso da calça um papel; confere o número da casa pelo endereço escrito no papel. Procura ver alguém. Não encontrando, começa a procurar a campanhia. Não acha.
Hermes
(Batendo palmas) __Oh de casa... Tem alguém em casa?
Cecília
(Fumando e desconfiada) ___O que deseja?
Hermes
____Aqui é a casa de Gullar? (Olha o papel na mão) ___Sou Hermes, vim fazer avaliação de uns livros que ele tem pra vender.
Cecília
(Demonstrando satisfação em vê-lo, joga o cigarro fora e o convida pra entrar, abrindo o portão) ____Estávamos apavorado; achamos que não vinha mais. Entre por favor. Sou Cecília... mãe do Gullar.
Hermes
(Os dois se cumprimentam com um aperto de mãos) ___Prazer! Perdão pelo atraso, é que aconteceu um imprevisto.
CORTE
CENA 08
SALA DA CASA/INT./MANHÃ
- Uma sala simples, bastante desarrumada, com móveis velhos e danificados. Gullar está dormindo no sofá. A imagem mostra uma grande quantidade de livros empilhados em um canto e os outros em cima dos móveis.
Cecília
(Acordando o Gullar) ___Gullar filho...acorde filho, seu Hermes já está aqui.
- Cecília começa a catar peças de roupas espalhadas pela sala. Gullar acorda se espreguiçando, sem perceber a presença de Hermes.
Gullar
(Meio envergonhado) ___Desculpa pelo senhor me encontrar assim...
Hermes
(Cortando a fala de Gullar e se dirigindo a pilha de livros) ___Assim como, meu jovem? Não se esqueça de que você está na sua casa. Portanto... você pode ficar à vontade. (Contando os livros com os olhos) Se não me falha a memória, disse-me que tinha mais de dois mil volumes... e pela muita experiência adquirida como livreiro, aprendi a contar com os olhos... e posso lhe garantir que, se contar um por um... e recontá-los, não vão dar dois mil livros.
Cecília
___Um instante, seu Hermes... Lá no quarto (Aponta a porta do quarto), tem outro tanto de livros...e aqui, dentro desta caixa(Ela arrasta uma caixa grande com as mãos) tem uma quantidade de fitas de vídeo de filmes antigos.
- Hermes se senta no sofá da sala e começa a ver as fitas de vídeo. Vai tirando as fitas, olha com emoção os títulos dos filmes, depois os coloca ao seu lado no sofá.
Hermes
___Há bons filmes aqui! Raridades mesmo... (Após retirar várias fitas, ele fica maravilhado quando encontra um filme especificamente). Meu Deus, veja o que eu encontrei. “Deus necessita de homens” (Muita emoção). Há anos, andei procurando esse filme, e nunca tive a sorte de achá-lo, nem na França quando lá estive, fazendo meu doutorado em filosofia na Sorbonne. “Dieu a besoin des hommes”, filme que assisti quando era criança... Na verdade, o primeiro filme a que assisti na vida, e nunca... nunca consegui esquecer a bela história contada nesse filme francês... do diretor Jean Delannoy, filmado em 1950! Chego a ficar emocionado com esse achado.(Mostra o filme como um troféu. Hermes tira o lenço do bolso e enxuga as lágrimas).
Gullar
___O senhor quer ver a outra quantidade dos livros lá no quarto, agora? (Ela olha a hora no relógio de pulso) É que a gente tem muita coisa pra resolver... e dependemos do dinheiro da venda dos livros.
Hermes
___Tudo bem... (Abraça o filme com satisfação), pois eu já dava por encerrada a nossa negociação...estou certo? Em vinte anos, como livreiro eu nunca senti tanta alegria em fazer uma compra de livros. Nem mesmo quando comprei o livro “Grande Sertão Veredas”, autografado por João Guimarães Rosa, para o presidente Juscelino Kubitschek.
Cecília
___Mas o senhor precisa ver os outros livros. Quem sabe lá no quarto, também, o senhor encontra outras raridades. Né meu filho? (Demostrando impaciência)
Gullar
___Sim, mamãe... Seu Hermes, me acompanhe por favor. (Sai Gullar na frente, Hermes no meio e Cecília atrás)
CORTE
CENA 09
QUARTO DA CASA/INT./MANHÃ
- A imagem mostra um panorama de todo o quarto. Com cama de casal, alguém deitado e coberto dos pés a cabeça, móveis surrados e livros por toda parte do quarto. Um aparelho de som em cima do criado mudo, toca a música “Ressuscita-me” na voz de Gal Costa. O aparelho é desligado por Cecília que entrou por último no quarto.
Hermes
(Abraçado com a fita de vídeo e falando muito baixo, vem próximo ao ouvido de Gullar) ___Realmente, meu jovem Gullar... você não exagerou quando disse que eram mais de dois mil livros. Estou certo?
Gullar
___Mas por que o senhor está falando tão baixo?
Hermes
(Continuando a falar baixo) ___Não quero atrapalhar o sono da pessoa que está dormindo aí. (Aponta com a cabeça o corpo inerte na cama)
Cecília
___Não...esse aí, não acorda mais não!
Hermes
___Como assim! Quem é esse aí?...
Gullar
___... É meu pai.
Hermes
___Seu pai! (Chocado) Espere aí... você não me disse que seu pai estava morto e, por isso, estava vendendo essa montoeira de livros. (Tenso e preocupado) O que está acontecendo aqui? É o seu pai que está ai? (Apontando e chegando perto do corpo)
Gullar
___Sim, é meu pai, mortinho da silva. O grande intelectual, o pai dos pobres, o político incorruptível Otto Diniz, que tanto fez pela nossa cidade, pelos pobres e desesperados... é como diz o ditado “Rei morto... rei posto”. (Descobre o rosto do falecido, chocando com isso Hermes)
Hermes
__Mas é... o professor Otto Diniz mesmo!
Cecília
____O senhor conhecia meu marido?
Hermes
___Dona Cecília... qualquer pessoa que more nesta cidade conhece seu Otto ou, no mínimo, já ouviu falar dele. Era na minha livraria que, no mínimo, ele marcava presença três vezes por semana. Seu marido era um homem muito admirado e querido.
Gullar
(Revoltado) ___De que adianta ser admirado em vida e quando morre... não ter dinheiro... e ninguém pra ajudar a comprar o caixão pra ser enterrado. Isso é revoltante.
Cecília
___Passei a manhã inteira ligando pra um e pra outro, pedindo ajuda. E a resposta foi sempre a mesma “sinto muito, ele era um bom homem, mas não posso ajudar”. Por isso é necessário que o senhor nos compre os livros...
Hermes
(Segurando a fita) ___Não é necessário vender o maior patrimônio do professor Otto... Muitos desses livros ele comprou na minha livraria... eu vou pagar as despesas do funeral... e em troca não quero nada... peço somente que me presenteie com esse filme. (Ele começa a assinar um cheque em branco e entrega a Cecília) Quero que a senhora gaste o que for suficiente para dar dignidade ao homem que fez tanto pelos seus semelhantes. É o mínimo que eu posso fazer pelo professor Otto Diniz, nesse momento. Estou certo?. Aqui está o cheque em branco.
- Ouve-se a música “Ressuscita-me” instrumental na hora em que Hermes entrega o cheque e até ele descobrir, por completo, o corpo inerte na cama e ficar admirando até chorar.
Cecília
___Ele morreu, fazendo aquilo de que mais gostava: relendo seu livro preferido (Ela tira das mãos do falecido o livro. A câmera dá close no livro do poeta Eduardo Alves da Costa: “No Caminho com Maiakovski”) e ouvindo sua música preferida. (Ela liga o aparelho e ouve Gal Costa cantando “Ressuscita-me”) Era sagrado para ele... dormia todas as noites ouvindo Gal Costa cantando essa música. (A música fica ao fundo) O senhor vai com a gente até a funerária?
Hermes
___Não... a senhora vá com seu filho, que eu tenho que preparar a homenagem que Três Rios... tem por obrigação de prestar ao professor Otto Diniz.
CORTE
CENA 10
FRENTE DO PRÉDIO DA RÁDIO 3 RIOS/EXT./MANHÃ

- A imagem mostra a placa com identificação da rádio e pessoas entrando pela única entrada do prédio. Em seguida vê a imagem da chegada do carro de Hermes. Ele estaciona o carro e entra no prédio apressadamente. A câmera acompanha sua subida pelas escadas que dá acesso à recepção.
CORTE
CENA 11
SALA DE RECEPÇÃO DA RÁDIO 3RIOS/INT./MANHÃ
- Vê a chegada de Hermes à recepção, onde há outras pessoas, aguardando para serem atendidas. Em off, ele conversa com a recepcionista, fazendo-lhe um pedido. Em seguida, ela pega o telefone e faz uma ligação interna. Depois torna a conversar com Hermes e lhe dar uma notícia que o tranqüiliza . Enquanto ele está agradecendo à recepcionista, entra na sala a radialista do programa que está no “ar”. Os dois se cumprimentam com beijos no rosto.
Raquel
(Demonstrando afobamento) ___Ó Hermes, que sangria desatada é essa, homem? A recepcionista me falou que você disse que era coisa de vida ou morte...
Hermes
(Afastando-a pelo braço para um lugar para ficarem a sós) ___Não, minha amiga, eu disse que é um caso de morte... só de morte.
Raquel
(Assustada) ___O que aconteceu, homem de Deus? Assim, você está me deixando com medo. (Olhando para o relógio) E o pior é que não, tenho tempo... pois esta quase na hora de eu entrar no “ar”...
Hermes
____Pois é justamente sobre a entrada no “ar” do seu programa que eu quero lhe falar.. Preciso que você me conceda um espaço no seu programa, para eu convencer a população de Três Rios, do valor inigualável do professor Otto...
Raquel
___Otto Diniz?
Hermes
___Ele mesmo... O homem morreu e não deixou nenhum amparo financeiro, para que a família fizesse seu enterro. Você acredita que todas as pessoas que a viúva procurou pra ajudá-la viraram as costas?
Raquel
___Logo o professor Otto que, em vida, fez tanto por Três Rios... Mas é sempre assim: “Rei morto...rei posto”.
Hermes
___É muito mais que isso, minha amiga... Nesta cidade, sempre foi assim e sempre será... Os poderosos nunca fazem nada pelos pobres... Quando encontram alguém que faz algo, eles o vê como um inimigo, um fora da lei... eles fazem e desfazem ao seu bel-prazer.
Raquel
___Não precisa dizer mais nada, Hermes. Venha comigo! Os microfones do meu programa estão à sua disposição. (Os dois saem pela porta que leva ao estúdio)
- A câmera volta para a mesa da recepcionista, depois que em off ouve-se a campainha do telefone. A recepcionista atende o telefone e depois que ela desliga, o aparelho a câmera mostra a caixa de som na parede da recepção e se ouve a chamada do “Programa Raquel Carvalho”.
CORTE
CENA 12
- A imagem mostra o comércio abrindo suas portas na Rua Walmir Peçanha. Vê algumas portas de ferro sendo levantadas e pessoas saindo e entrando em outras lojas.
CORTE
CENA 13
ESTÚDIO DA RÁDIO 3RIOS/INT./MANHÃ
- A câmera fica em close na placa vermelha com os dizeres “NO AR”. Enquanto em off ouvi a voz da radialista Raquel Carvalho.
Raquel
____Minhas amigas donas de casa... o nosso programa tem o patrocínio do “Supermercado Bramil”...somente no Supermercado Bramil, todos os dias, vocês encontram o melhor preço da cidade para fazer suas compras. “Supermercado Bramil” onde é sempre um prazer atender você. - A imagem mostra a mesa com Raquel dizendo a última estrofe do reclame e Hermes, os dois sentados. Raquel procura um papel em meio a tantos e não encontra e resolve falar da presença de Hermes.
Raquel
___Hoje, não vou seguir o roteiro normal do nosso programa, porque tenho que abrir o microfone, para o Sr. Hermes Cardoso dar uma triste notícia à população de nossa querida Três Rios. Hermes, por favor, o microfone é seu.
Hermes

___Nossa cidade, a partir de hoje, não mais será a mesma... pois, para nossa tristeza e profunda dor, faleceu hoje aquele que indubitavelmente foi o maior de todos os trirrienses: o professor Otto Diniz. Quem, de uma forma ou de outra, não foi assistido ou recebeu um ensinamento do professor, poeta e ex-vereador? Por essa razão, eu convoco toda a população de Três Rios, para dar seu adeus àquele que divulgou, através de sua genialidade e solidariedade, o nome da nossa cidade. É o mínimo que podemos fazer a um homem que esqueceu de si mesmo, dando tudo que tinha em vida aos outros e, morto, nem o dinheiro para comprar seu caixão deixou.
CORTE
CENA 14
VÁRIOS PONTOS COMERCIAIS E RESIDENCIAIS/EXT./MANHÃ
- Vêem-se várias lojas do comércio e residências ouvindo, pelo rádio, o programa e as pessoas emocionadas e algumas chorando.
CORTE
CENA 15
ESTÚDIO DA RÁDIO 3RIOS/INT. MANHÃ
Raquel
___Hermes, a gente nota nitidamente que você está abalado, tomado por uma forte emoção...
Hermes
___(Chorando) ___É que, para mim, se existe alguma coisa que incomoda e fere profundamente... é ingratidão. Ingratidão é o pior de todos os sentimentos... E saber que o corpo do professor Otto... está até agora em cima da cama, e a família teve que vender os livros, a única herança deixada por ele, para poder comprar o caixão... isso é cruel demais, é inaceitável...
Raquel
___Realmente (Emocionada e chorando) e para que horas está marcado o sepultamento? De onde vai sair o féretro?
Hermes
___A família marcou para as 16h, a princípio sairia da casa do falecido... Eu, porém, moverei o céu e a terra, para que o professor Otto receba todas as homenagens de um grande benfeitor... Saindo daqui... vou direto falar com o prefeito, solicitar ao poder executivo que o município tome a frente das homenagens. Sendo assim... o corpo será velado na Câmara Municipal.
Raquel
___Mas... Hermes, você acha que os poderosos desta cidade vão concordar com essa homenagem? Você mesmo falou que os poderosos viraram as costas para a viúva, quando esta solicitou ajuda para comprar o caixão para o professor Otto.
Hermes
___Eu tenho certeza de que, se eu for sozinho, terei poucas chances de convencer o senhor prefeito, mas se eu for acompanhado por um grupo de pessoas, o prefeito acatara nossa reivindicação. Por um mais um... vou convencer a população tririense. Vamos decretar luto oficial nesta cidade pela morte do professor Otto. Todos devemos ir à Câmara Municipal. Hoje, é feriado em Três Rios, porque todos devemos nos despedir daquele que foi o maior benfeitor de Três Rios em todos os sentidos.
CORTE
CENA 16
RUAS COMERCIAIS DE TRÊS RIOS/EXT./MANHÃ
- A imagem mostra várias lojas sendo fechadas, funcionários arriando as portas. Diversas pessoas chorando, lamentando a morte do professor Otto.
CORTE
CENA 17
PREFEITURA MUNICIPAL DE TRÊS RIOS/EXT./MANHÃ
- A câmera mostra em close a fachada da prefeitura (Vê a placa com a inscrição). Na parte interna, a imagem dá um plano geral de alguns setores da prefeitura, depois se vê a inscrição na porta “Gabinete do Prefeito”. A câmera mostra a mão do garçom batendo na porta e, na outra mão, ele segura uma bandeja com água e cafezinho.
CORTE
CENA 18
GABINETE DO PREFEITO DE TRÊS RIOS/INT./MANHÃ
- Em off, ouvi a voz do prefeito falando com Hermes, enquanto o garçom se dirige até eles. O prefeito está sentado na sua mesa e Hermes no lado oposto. O garçom serve cafezinho ao prefeito em seguida a visita.
Prefeito
___É uma perda irreparável! Apesar de sermos politicamente adversários... devo admitir que o professor Otto Diniz foi um homem que mais fez coisas boas para Três Rios. Obrigado! (Agradece ao garçom depois que recebe a xícara com o cafezinho)
Hermes
___Já que o senhor reconhece a importância do professor Otto para Três Rios... acredito que não haverá problema nenhum em o poder executivo tomar a frente das homenagens póstumas. Obrigado! (Depois que recebe a xícara com o cafezinho)
Prefeito
(Depois de dar o último gole e colocar a xícara na mesa) ___Sem sombra de dúvidas... agora mesmo vou ligar para o presidente da Câmara Municipal, que é do meu partido e pedir-lhe que prepare todos os trames para as homenagens na Câmara Municipal.
Hermes
(Com a xícara nas mãos e demonstrando contentamento) ___Sabia que o senhor não ficaria indiferente para com essa história. A população de Três Rios ficará extremamente feliz com essa sua atitude.
CORTE
CENA 19
TAKE DA CIDADE DE TRÊS RIOS/EXT./TARDE
- A imagem parte do close do relógio da matriz que marca “15h30m”. Em seguida, a câmera mostra o carro de som anunciando pelas ruas da cidade o novo endereço em que está sendo velado o corpo do professor Otto: “A família do professor Otto Diniz comunica à população de Três Rios que o corpo do professor Otto Diniz está sendo velado na Câmara Municipal, de onde sairá o féretro para o sepultamento às 16h. A família enlutada agradece a todos os que comparecerem a esse ato de fé e piedade Cristã”. Em seguida, a câmera mostra, em close, a fachada da prefeitura com as bandeiras do Brasil, Estado e Município, hasteadas a meio palmo.
CORTE
CENA 20
FRENTE E FACHADA DA CÂMERA MUNICIPAL/EXT./TARDE
- Vêem-se, em plano geral, imagens do prédio da Câmara Municipal de Três Rios. A câmera mostra inúmeras pessoas em uma grande fila para se despedirem do professor Otto Diniz. E em off, dentro da câmera, ouve-se o discurso proferido pelo prefeito: “Três Rios está de luto. Como chefe executivo deste município, decretei três dias de luto oficial pela morte do já saudoso e sempre querido professor Otto Diniz...
CORTE

CENA 21
SALÃO NOBRE DA CÂMERA MUNICIPAL/INT./TARDE
- Vêem-se as pessoas admirando o corpo do professor Otto que está no caixão coberto com a bandeira do Brasil. Ao fundo, ouve-se a música “Ressuscita-me” instrumental. A viúva chorando, abraçada ao filho, Hermes e outras personalidades em volta do caixão ouvem atentos o discurso do prefeito.
Prefeito
___...A notícia do seu falecimento pegou todos nós de forma súbita e tristonha... Não posso deixar de citar o legado cultural e político que o professor Otto Diniz está deixando de herança para a nossa Três Rios. Dentro de poucos dias, estaremos inaugurando uma praça com seu nome, para que sempre... sempre ele seja lembrado. Muito obrigado! (Demonstrava uma falsa tristeza, pois, em todo o tempo do discurso, ele se comportou como um político preocupado com a reeleição e não, propriamente com homenagear o falecido.)
- Nessa hora entra o padre (de batina) se dirigindo a frente do caixão. Vendo o padre se aproximar, a viúva se assusta e vai falar com Hermes.
Cecília
___O senhor convidou o padre... Mas o Otto era ateu! Viveu e morreu ateu...
Hermes
___Calma, Dona Cecília, por que ninguém é totalmente ateu. Estou certo? Tenho certeza de que, em algum momento da existência do professor Otto, de uma forma ou de outra, ele procurou a Deus. Talvez mesmo, sem o perceber ele buscou a Deus. Todos os homens precisam de Deus, assim como Deus também necessita dos homens. Homens como o professor Otto, fazem falta lá no céu. Estou certo? A vida é uma troca, Dona Cecília... e Deus é o maior permutador. Estou certo? Agora, com licença, vou dar as boas vindas ao padre. (Hermes sai e vai ao encontro do padre. Nesse momento, ouve-se a música “Ressuscita-me” instrumental. Os dois se cumprimentam com um aperto de mãos.)
Hermes
___Obrigado por ter atendido meu chamado, padre, (Meio sem jeito) para fazer a recomendação do corpo do professor Otto... mesmo sabendo que ele era...
Padre
(Interrompendo)___Para Deus, todos nós somos filhos amados. Não importa para Ele que a gente se comporte como descrente. Deus é misericordioso, portanto receberá todas as suas criaturas de maneira igual...
Hermes
___Bem, a hora já se avança (Olhando pro relógio), vamos começar as orações. Estou certo?
Padre
(Na cabeceira do caixão com a tampa aberta) ___Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo... Diletos e amados irmãos: de Deus viemos, para Deus voltaremos... esta é, indiscutivelmente, a única verdade que temos na vida. Depois de cumprimos a nossa missão na terra... ganhamos como recompensa a contemplação da face de Deus. Não existe dádiva maior do que estar diante do Pai Celestial. Por isso, devemos celebrar com júbilo este momento em que nos despedimos do professor Otto que foi um homem, enquanto vivo na terra... ajudou os pobres e lutou para que todos tivessem os mesmos direitos. Descanse em paz, professor Otto Diniz. (Joga água benta sob o caixão e ordena que se coloque a tampa. Mais uma vez ouve-se a música “Ressuscitas” instrumental.)
- Na hora em que dois homens estão colocando a tampa no caixão, a viúva se abraça com o filho, os dois choram copiosamente. Mostra as pessoas enxugando as lágrimas com lenço ou com as mãos.
CORTE
CENA 22
CEMITÉRIO MUNICIPAL/EXT./TARDE
- Vê-se a inscrição do cemitério municipal na entrada. Em seguida, a imagem mostra uma pequena multidão em volta do túmulo do professor Otto Diniz. Quando o homem começa a empurrar o caixão, (A bandeira municipal está sobre o caixão) para entrar na gaveta, é interrompido com uma ordem.
Cecília
___Esperem um pouco... Tenho algo a dizer... Todos sabem (Chorosa) que sou Kardecista e, como Kardecista acredito piamente que, dentro em breve, o Otto estará em nosso meio novamente.
- Cecília chora de soluçar e é amparada com um abraço de Hermes, que toma a palavra.
Hermes
___A Dona Cecília tem razão... O professor Otto Diniz, sempre vai estar vivo dentro do nosso coração... por tudo que ele foi... e fez por Três Rios.
- Gullar, abraçado a Cecília, dá a ordem para colocar na gaveta o caixão. Vemos pessoas tristes, colocando flores sob o caixão.
CORTE
CENA 23
FRENTE DA CASA DA VIÚVA/EXT./TARDE
- Vê-se o carro chegando frente à casa da viúva. Primeiro, desce Hermes. Ele abre a porta do carona e desce Cecília (Vestida de preto); em seguida, desce Gullar (que logo acende um cigarro). Hermes segura a mão de Cecília e, com toda serenidade, fala com ela.
Hermes
___Até que tudo seja resolvido, para que a senhora receba a pensão deixada pelo professor Otto, a senhora Dona Cecília pode contar comigo para suprir qualquer necessidade que, por ventura, venha a ter.
Cecília
___Obrigada, senhor Hermes. O senhor demostrou ser dono de um coração generoso. Não sei o que seria da gente, se o senhor não tomasse a frente da situação. Acredito que até agora o corpo do Otto estava ainda ai (Apontando a casa). Não sei como pagar ao senhor por tudo que fez pelo Otto e por nós.
Hermes
___Já ganhei muito... ganhei a amizade de vocês... e o filme.(Ele vai até o carro e pega a fita de vídeo) Lembra a minha felicidade quando encontrei essa fita? “Deus necessita de homens”. (Close no título do filme) Bem! Quero reafirmar que pode contar comigo pra qualquer coisa.
- Hermes se despede e vai entrando no carro, abre a porta, quando é chamado por Gullar.
Gullar
___Seu Hermes, como meu pai, eu também sou ateu... mas eu sempre achei que qualquer um pode ser Deus... Basta fazer o bem, assim como o senhor fez pra gente... Muito obrigado, seu Hermes, por o senhor existir. (Ele volta e os três se abraçam de um só vez).
CORTE
CENA 24
SALA DE ESTAR DA CASA DE HERMES/INT./NOITE
- Sala ricamente decorada, iluminada somente pela luz do abajur, Hermes assiste o filme “Deus necessita de homens”, pela televisão. A imagem mostra o final do filme e, depois, a passagem dos créditos. Nesse momento, vê Hermes se levantando da poltrona (De pijama), vai até o aparelho de vídeo e rebombina a fita. Entra na sala a mãe de Hermes (Uma senhora gorda) com um copo de suco na bandeja para Hermes e comenta.
Mãe de Hermes
___Meu filho... você vai assistir de novo a esse filme? Essa é a terceira vez consecutiva, que você assiste “Deus necessita de homens”, só nesta noite.
Hermes
___Estou matando a saudade, minha mãe. Vi esse filme no seminário... pela primeira vez quando tinha onze anos... e me emociono até hoje.
- Hermes se senta no sofá com a mãe, dá um beijo nela, na cabeça, e carinhosamente fala com a mãe.
Hermes
___Agora, sente aqui. A senhora vai assistir comigo. (Recebe o copo de suco e dá um gole)
- Aparece na televisão o título do filme “Deus Necessita de Homens”.

FIM

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

POESIA: PREFEITO GUERREIRO

Esta poesia e dedicada ao intelectual, jornalista e escritor Fernando Gabeira.
Gabeira é o melhor para administrar o Rio
honesto, competente e ético
seu histórico é rico
de luta pela liberdade
ele ama demasiadamente
essa maravilhosa cidade.
Meu voto é para Gabeira
porque quero ver
minha cidade ser bem administrada.
Não quero ver o Rio sem rumo
fora dos trilhos.
Rio
nosso cartão-postal brasileiro.
Gabeira
nosso prefeito guerreiro.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

POESIA - POLÍTICOS VERSUS VOTOS

O voto
cuidado para não votar contra você.
O voto é sua bandeira democrática
é sua escolha, é um dever.
Quem vota por troca de favores pessoais
perde o direito de reclamar seus direitos
e amarga uma longa estrada deserta:
sem escolas, sem cultura
sem segurança pública, sem saúde pública
sem emprego, sem moradia.
O voto
quando consciente
dado a político decente
se transforma em benfeitoria pública.