segunda-feira, 26 de maio de 2008

CONTO - O MENINO PRODÍGIO E A PROSTITUTA APRENDIZ

ESTE CONTO FOI ESCRITO EM PROPRIÁ-SE, EM 1989.

O MENINO PRODÍGIO E A PROSTITUTA


Todos os dias, após o término das aulas, por voltas das 12:30hs., os alunos do Colégio Diocesano de Propriá, saiam desembestados: correndo, gritando e fazendo arruaça. Dentro dos quase duzentos alunos, existia um grupo, formado por doze meninos que se desatacava dos demais alunos. Liderado por Ulisses, o grupo dos doze, como era conhecido, sempre ia depois da aula, para a Rua da Catedral, rua paralela a do colégio, com o intuito de fazer provocação a D. Nancy.
D. Nancy, uma ex-prostituta, beirando a casa dos 65 anos, que não dava mais expediente, se via agoniada com aquele bando de meninos, entre 10 e 14 anos, fazendo gestos obscenos falando palavrões na porta da sua casa. Tal comportamento vil dos alunos foi por varias vezes denunciado à direção do colégio, esta, não tomou nenhuma providencia, uma vez, que a denunciante era uma rameira, uma quenga em fim de carreira. Tudo bem, que ela não atendia mais homens. Todavia, uma vez prostituta, sempre prostituta. Era assim que os medíocres da sociedade propriaense enxergavam.
Pertencia ao grupo dos doze, o inteligente Roger, apesar de fazer parte da trupe, Roger não se envolvia diretamente com as brincadeiras de mau gosto dos colegas inflames. Percebendo que o garoto não tinha o comportamento igual aos outros meninos, D. Nancy frisava bem sua fisionomia e procurou obter informações sobre Roger.
Certa feita estava Roger na feira com sua mãe, quando se deparou com a sexagenária mulher parada em sua frente. O menino assustado perdeu a cor e o chão.

___ Roger! É este seu nome, não é?

___ A senhora conhece meu filho de onde?

___ Eu moro perto do Colégio Diocesano que ele estuda. Não só conheço ele, como os outros coleginhas dele.

___ Ah! Cumprimenta... qual é sua graça?

Roger, que segurava o carinho de feira cheio de frutas e hortaliças, termia feito vara verde, com medo que sua genitora descobrisse que estava conversando com uma ex-mulher de vida fácil em via publica.

___ Cumprimenta a D. Nancy, meu filho.

___ Bom dia, D. Nancy!

___ Bom dia, Roger! Tive conhecimento que você é um menino de muita sabedoria.

___ Meu Roger é de fato um menino prodígio. Estudioso por demais. Até aula de língua estrangeira ele dar para os colegas.

___ Sei disso. E é por isso que eu quero contratar-lo para ensinar-me língua estrangeira.

___ A senhora com essa idade, querendo aprender. Acho muito bonita essa sua bravura. Mas que mal lhe pergunte D. Nancy, para que a senhora que aprender língua estrangeira?

___ É que tenho um filho morando nos stentes. E pretendo um dia visitar-lo... E então rapazote aceita ou não me dar aulas?

___ Eu não disponho de tempo suficiente, para assumir este compromisso com a senhora.

___ Como não, meu filho. Você tem nota máxima em todas as matérias. Deixe de modesta Roger meu filho. Vamos, aceite dar aula para D. Nancy.

___ Mas mãe, eu acho melhor não...

___ D. Nancy pode ficar tranqüila o Roger vai ensina língua estrangeira para a senhora. E além do mais, quem ensina também aprende. Quando a senhora quer que ele comece as aulas?

___ Se possível hoje mesmo, das 16:00hs. as 17:00hs.. Tá bom pra você Roger?

___ Pra mim tudo bem. Se a mamãe concordar.

Ao chegar em casa Roger se trancou em seu quarto. Preferiu silenciar sobre quem na verdade era D. Nancy. Sua mãe eufórica com o reconhecimento da sabedoria do filho, fora do convívio familiar, ligou para São Paulo dando a boa-nova a filha, irmã de Roger, moradora da capital paulista.
Na hora marcada Roger estava em frente à casa de D. Nancy, com alguns livros debaixo do braço. Após dá sinal da sua chegada com o toque da campanhia a ex-cortesã abriu a porta e o mestre-mirim adentrou na casa. Meio amedrontado com o imponderável, Roger tremulava não conseguia conter o nervosismo nítido no seu semblante. Sua voz era quase incompreensível tamanha era a gagueira provocada pelo medo.
D. Nancy pegou o professor pelo braço levando-o para a sala de estar, sentados o mestre-mirim começou a dar sua primeira aula de inglês àquela que mal sabia assinar o próprio nome. Depois da quinta aula, Roger não já tinha mais o olhar amedrontado, sentia até uma certa paz naquele ambiente acolhedor. Roger era um menino muito observador e não deixava de reparar como a casa de D. Nancy estava sempre limpa e tomada por agradabilíssimo cheiro. Também ele observou que na casa tinha várias imagens de diversos santos católicos.

___ D. Nancy, porque a senhora tem tantas imagens de santos. É promessa?

___ Meu pequeno mestre, uma mulher feito eu, com a minha idade, não acredita mais em milagres. Essas imagens são as únicas companhias que eu tenho na vida. São com elas que eu converso, que rio e que choro.

___ Por que a senhora não vai morar nos Estados Unidos com seu filho, já que a senhora sente-se tão sozinha.

___ Foi bom você falar sobre isso meu professorzinho. Eu não tenho filho no estrangeiro e nem em nenhuma parte do mundo. No mundo eu sou sozinha, só tenho Deus por mim!

___ Então porque a senhora quer aprender a falar inglês?

___ Calma! Eu vou explicar tudo a você.

___ Espero que não seja nada impróprio para menores de 18 anos.

Os dois riram, pois o tempo criou entre eles laços de amizade.

___ Não, não tem, nada de desavergonhado. O que vou lhe contar, não lhe disse antes com medo que você me rejeitasse, preferi fortalecer nossa amizade e mostrar a você, que mesmo sendo uma ex-prostituta, sou uma pessoa respeitável e, não uma devoradora de homens como as pessoas me apontam na rua.

___ A senhora sempre mim tratou como uma mulher de princípios D. Nancy, mas a senhora ainda não respondeu, porquê quer aprender inglês se não vai aos Estados Unidos?

___ Eu contratei seus serviços como professor de língua estrangeira, para que você faça uma coisa por mim.

___ Do que se trata?

___ Um minutinho, vou pegar algo para você dar uma olhada.

___ A senhora está me assustando D. Nancy.

___ É disso que estou falando.

___ Este é o prospecto de um curso de inglês por correspondência!

___ Mas aonde eu entro nessa história D. Nancy?

___ Vou lhe dizer meu filho o quanto eu preciso de você para realizar um sonho. Acredito que este é o único sonho que carrego dentro de mim desde da meninice.

___ Se tiver ao meu alcance, vamos realizar-lo. Mas pare de chorar, por favor, se não vou chorar também.

Disse isso depois de se levantar, abraçar D. Nancy e enxugar suas lágrimas.

___ Então professorzinho, o meu sonho é ter um diploma com meu nome escrito: Nancy Maria Meira. No dia em que isso acontecer vai ser um dia de glória na minha vida.

___ Já entendi o que realmente a senhora quer que eu faça. Quer que eu responda os exercícios do curso de correspondência para a senhora receber o diploma. Não é isso amiga?

___ Que bonito que você me chamou de amiga, há muitos anos não ouvia ninguém me chamar de amiga. Obrigada meu filho. Amigo mestre, você vai ajudar-me nessa façanha? Talvez você ache tolice minha querer um diploma de língua estrangeira, não importa do que seja, o importante é o diploma. Tê-lo é como eu ganhar uma vida nova, enterrando meu passado de vida de mulher de vida fácil.

Enquanto D. Nancy falava Roger passava os olhos nos exercícios e respondendo algumas questões.

___ D. Nancy, posso lhe garantir que a senhora tem 99,99% de chance de ser diplomada. Hoje mesmo faremos a devolução dos exercícios devidamente respondidos para a central de cursos por correspondência e segundo o regulamento aqui, dentro de quinze dias a senhora receberá o diploma se obter 80% de respostas acertadas.

___ É claro que vou ter a nota máxima, pois é você meu prodígio mestre que vai responder.

Demonstrando muita felicidade D. Nancy se derramou em elogios e agradecimento ao seu mestre-mirim. Naquele mesmo dia, D. Nancy foi aos correios postar o envelope com as lições feitas do curso. Em seguida se dirigiu ao cartório onde fez um testamento. Passados quinze dias D. Nancy, como havia sido previsto por Roger, recebeu o seu tão sonhado diploma. Não se cabendo de alegria, ligou para o seu professorzinho para dar-lhe a boa nova. A mãe de Roger disse que o filho ainda não havia voltado do colégio. D. Nancy aproveitou para ir a vidraçaria na Rua Dom José Castro, mandou colocar o diploma na mais cara moldura. Ao sair da vidraçaria, D. Nancy, que não parava de contemplar o diploma não viu, no primeiro momento, quando um táxi em alta velocidade se aproximava dela, percebendo, a sua primeira reação foi de proteger o quadro com o diploma. O diploma ficou intacto, já D. Nancy não suportou o impacto com o táxi e veio a óbito.
Logo depois do sepultamento descobriu-se que D. Nancy, fez Roger seu herdeiro universal.