quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

POESIA - CAMINHO DE DENTRO

Foi como se tudo estivesse ali, dentro de mim,
sem que eu pudesse nada fazer.
A água não era sadia
naquele dia, tinha a cor da morte
num lampejo
desfez o meu desejo
de viver.

Foi como se tudo estivesse ali, dentro de mim,
sem que eu pudesse nada fazer.
Ouviam-se gritos e gemidos
foi como se estivássemos sendo banidos,
era um infinito breu
entre tantos buscava os meus
que já haviam sido arrastados
e seus corpos estavam enterrados.

Foi como se tudo estivesse ali, dentro de mim,
sem que eu pudesse nada fazer.
Crianças órfãs de um futuro ausente
vidas em lamento
perdas no caminho de dentro.

sábado, 8 de janeiro de 2011

POESIA - NITERÓI, MAJESTOSA CATEDRAL




Atravessei a Baía de Guanabara
e lá cheguei...
Estava ela de braços abertos,
com sorriso largo pronta para seduzir.
Abraçou-me tão ferozmente que não resistir,
ao seu encanto e apaixonei-me pedidamente.
Sem mais delongas, conduziu-me ao
sarau cultural da UFF
letras - cinema – música.
Niterói...
Seu cheiro é de pommes vertes.
Niterói...
é coração de mãe
é fauna e flora
é pinacoteca natural
é caminho Niemeyer
é majestosa catedral.

sábado, 1 de janeiro de 2011

RECEITA PARA 2011

Seguirei à risca esta receita em 2011, elaborada pelo o Chef-Mor da literatura brasileira; Carlos Drumonnd de Andrade.


"RECEITA DE ANO NOVO


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.”