domingo, 6 de março de 2022

GUERRA É O PIOR DE NÓS

“Toda a guerra é rendição às forças do mal”. Assim pronunciou-se o Papa Francisco ao comentar a invasão de tropas russas na Ucrânia. Nesta modernidade do século XXI, os crimes de guerra são transmitidos ao vivo pela internet, causando-nos uma perplexidade dilacerante como a exibição de imagens de um bombardeio atingindo a cidade de Kiev, capital da Ucrânia, atacada deliberadamente por soldados russos. A luminosidade do bombardeio fez com que a madrugada da invasão russa tivesse uma claridade como se o dia já estivesse amanhecido com a luz do Sol em Kiev. Em Provérbios 16:32, está descrito: “Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade”. No bojo da guerra entre Rússia e Ucrânia, há um projeto desenfreado de poder, autoritarismo, ambição e arrogância do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Em nome de um fisiologismo e, destrói vidas, sonhos de homens, mulheres e crianças. "Onde impera o poder aí não há lugar para a ternura nem para o amor", escreveu Carl Gustav Jung. A impulsividade nos conduz a erros gravíssimos. A boa observância sempre, a capacidade de reflexão é uma das melhores bênçãos que temos. Contudo, em uma guerra, a primeira prioridade é colocar de lado o amor ao próximo em detrimento de projetos pessoais. Saltam aos olhos interesses próprios quando o assunto é PODER. Uma guerra é sempre um fracasso humanitário. Assistir às cenas dos refugiados ucranianos, resilientes a todo custo, tentando chegar à Polônia, Moldávia, Romênia e Hungria, lança-nos apavoramento, medo e trauma. “Ainda vai levar um tempo Pra fechar que feriu por dentro...” Já diz o excerto da letra da música de Lulu Santos: “Assim Caminha a Humanidade". Em indagações entre Einstein e Freud: “Por que há guerra?”, há relatos de que assim definiu Sigmund Freud: “A guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização e, por esse motivo não podemos evitar de nos rebelar contra ela; simplesmente não podemos mais nos conformar com ela. Isto não é apenas um repúdio intelectual e emocional; nós, os pacifistas, temos uma intolerância constitucional à guerra e, digamos, uma idiossincrasia exacerbada no mais alto grau”. Infelizmente, não há como sanar questões de guerra em definitivo. É como se fizesse parte diuturnamente do ser humano; ameaça-o sempiternamente. Por isso que é de suma importância buscar a paz como missão a ser cumprida todos os dias em nós. O poeta Tcheco, Rainer Maria Rilke, escreveu: “E, no entanto, embora cada um tente fugir de si mesmo como de uma prisão que o enclausura em seu ódio, faz parte do mundo um grande milagre. Eu sinto: toda vida é vivida”. Eis aqui uma ressonância que se abre para encontrarmos a paz das guerras internas do eu. Equacionando conflitos com o próprio eu em reparação e expiação, não haveria atos bélicos. Dom Mauro Morelli, primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias, hoje emérito, que realizou um pastoreio repleto de missionariedade e dedicação de amor ao próximo, certa feita disse: “A desgraça do mundo é a Dona Riqueza cuja filha primogênita é a Miséria. Pobreza é vida frugal, não falta nada para viver com saúde e dignidade, sem acúmulo e sem desperdício, repartindo o que somos e temos!”. A fome também é geradora de guerra. Não há dúvidas que o ressentimento destrói a inteligência, a capacidade de reflexão e o senso crítico. Indubitavelmente, falta dissentimento naqueles que provocam a guerra. O maior teólogo brasileiro vivo, Professor Dr. Leonardo Boff, como de praxe, apresentou sua análise precisa e inteligente: “Não há guerra santa, nem justa, nem justificável, porque toda guerra mata, especialmente, inocentes. Ela é um mal absoluto e vai contra o mandamento: “Não matarás!”, Mateus, 5:21. E também é contra o sentido da vida que é sempre desejar viver, desejar até uma vida eterna. Esse mal está ocorrendo na Ucrânia”. Precisamos de uma mudança interna, no coração. Rogo que Jesus Cristo, a Luz do Mundo, conduza-nos em nossa transformação e na busca pela paz. Dom Hélder Câmara dizia: “A única guerra legítima é aquela que se declara contra a miséria e a ignorância”. Ao ver a imagem dos refugiados da Ucrânia, aos montes, fugindo da guerra descabida, lembrei-me do poeta alemão Yehuda Amichai, que, com a família, emigrou para Palestina em razão do antissemitismo. Ele escreveu o estonteante poema intitulado “Deus cheio de misericórdia”: Deus cheio de misericórdia Se não fosse por Deus ser cheio de misericórdia Haveria misericórdia no mundo, não só nele. Eu, que colhi flores nas montanhas contemplando os vales. Eu, que carreguei corpos morro abaixo, Posso lhes dizer que o mundo não é vazio de misericórdia. Finalizo esta minha reflexão como comecei, com uma fala do Papa Francisco: “Que se calem as armas. Deus está do lado dos artesãos da paz, não com os que usam a violência”.

quinta-feira, 3 de março de 2022

MINHAS LOUVAS PARA PETRÓPOLIS

A cidade de Petrópolis é, por si, só pura história. Na “Cidade de Pedro” há história em seus museus, nas suas avenidas, em seus casarões, na sua monumental catedral, em seus imponentes palácios, nas suas várias instituições acadêmicas, educacionais e religiosas. Em especial, o nobilitado Instituto Histórico de Petrópolis, uma Arcádia renomada com membros guardiões da preservação da memória e raízes culturais da Imperial Cidade de Petrópolis. Ao desembarcar em Petrópolis, pela primeira vez, em 23 de janeiro 1990, meu encantamento pela “Cidade Imperial“ resultou em um amor platônico. Sua exuberância, seu clima, sua beleza estonteante, a contumaz afabilidade dosseus habitantes despontam uma capacidade especial de angariar louvação. Respaldado neste encantamento, eu tomei uma decisão irrevogável, morar em Petrópolis. Desde então, somente me ausentei de Petrópolis por razões discentes: doutorado e pós-doutorado. Petrópolis é como o mundo todo em uma só cidade. De suas ramificações das mais diversas nacionalidades floresceu uma pluralidade que enriqueceu de forma extraordinária sua antropologia cultural. A teledramaturgia, o cinema e a literatura já figuraram a cidade de Petrópolis como cenário. E o que não faltam na “Cidade das Hortênsias” são cenários que transcendem a pulcritude. Eu mesmo, como escritor, já inserir em minha obra literária cernes de romances que decorrem por inteiro em Petrópolis. Petrópolis, berço de Raul de Leoni, seu filho ilustre, que versejou magistralmente deixando seu nome na constelação dos insignes poetas. “Cidade de Pedro”, “Cidade Imperial”, “Cidade das Hortênsias”, esta denominada tríade, são três formas carinhosas de se referir a Petrópolis desde outrora. Entretanto, eu acrescentaria Cidade dos Intelectuais. Não obstante os nascidos em Petrópolis são inúmeros aqueles que optam em serem petropolitanos de coração: O poeta pernambucano Manuel Bandeira, “Estrela da vida inteira”, em Petrópolis fixou residência por um período; assim também o Professor Leonardo Boff, escritor e teólogo de renome internacional; e, ainda, Dante Milano, com sua poesia absoluta; o Professor Roberto Francisco, com sua erudita “Miscelânea”, sapiência e fidalguia; Antônio Torres, com sua obra universal; Professor Ataualpa Antônio Filho, com sua genialidade testificada como poeta, cronista e biógrafo – o nordestino mais petropolitano que conheço. No ano do jubileu da Academia Petropolitana de Letras, com seus cem anos de existência, há, no entremeio dos anos, inúmeras histórias de mulheres e homens notáveis com vasta cultura e criativa obra, abrangendo vários saberes que fizeram parte da Academia Petropolitana de Letras. Na contemporaneidade temos seu atual presidente, Professor Leandro Garcia, jovem escritor, nato na arte de transmitir sua ampla cultura através da docência e de seus livros; o Professor Paulo César dos Santos, poeta, biógrafo e educador. É impossível falar de cultura e educação de Petrópolis sem reverenciar este Mestre; a Professora Carmen Felicetti, poetisa mineira que tem admiração de toda a Petrópolis por sua magnificência poética, primeira Dama da Academia Petropolitana de Letras; Professor Fernando Magno, poeta sublime que deslumbra a beleza em versos; Professor Luiz Carlos Gomes, historiador com aguçada inteligência (conversar com ele é ter uma aula magna sobre Petrópolis); Chistiane Michelin, poetisa e escritora (quão maravilhado fico ao ler seus livros). Assim como Nara Leão foi a musa da Bossa Nova, Chistiane Michelin é a musa da Academia Petropolitana de Letras; Professor Dr. Cléber Alves, motivo de grande celebração sua intelectualidade e elegância, um lorde petropolitano erudito; Dr. José Afonso Vaz, cronista que com exímia maestria conduz seus textos de forma esplêndida. Elencar todos os intelectuais de Petrópolis e membros titulares da Academia Petropolitana de Letras, indubitavelmente, não é possível, pois o espaço para o texto não comporta. Mas estejam convictos que todos têm, por infinitude, minha admiração, respeito e gratidão. Escritores são inventores apaixonantes. Eles são dotados de dons. invencionices e depois nos oferecem os melhores amigos do mundo, os Livros. O escritor estadunidense, Carl Edward Sagan, disse: “Escrever é talvez a maior das invenções humanas, unindo pessoas que nunca se conheceram, cidadãos de épocas distantes. Os livros quebram as algemas do tempo. Um livro é a prova de que os humanos são capazes de fazer mágica”.