domingo, 28 de setembro de 2008

POESIA - PERSONNALITÉ

Robort Rose
personae gratae
de extensão sabia.
Vê-lo em pleno exercício
a decifrar as personalidades
mostrando a diVERsidade da cidade
pela TV
se aprende a lição do saber.
De bom gosto impecável
e com esmerada educação
sua finesse
traduz sua própria personnalité.
Este poema e dedicado ao mestre Robert Rose, que em breve estará apresentando o seu programa televisivo: "Personnalité".

sábado, 27 de setembro de 2008

CONTO - EM NOME DOS HOMENS

Este conto foi escrito em 1991.

EM NOME DOS HOMENS

João Lucas, filho da tradicional família Feitosa de Brito, tinha amanhecido com a idéia fixa. Decididamente, depois do almoço ele deixaria o Seminário-Maior de Teologia São Jerônimo. Após passar a noite toda em claro, meditando, chegou à conclusão: “Aqui, quanto mais se reza, mais coisas erradas os seminaristas praticam”.
O Padre Reitor, recebeu a notícia da desistência vocacional de João Lucas, com imensa tristeza. Não só por perde seu melhor aluno de teologia dogmática, matéria lecionada por ele, como também por perder a alta contribuição financeira, que a rica família de João Lucas depositava mensalmente em favor do seminário. Em vão o Padre Reitor, tentou a todo custo fazer seu dileto aluno dissuadir da idéia de ir embora.
Antes do almoço, o Padre Reitor reuniu todos os seminaristas na capela, e fez o anúncio que João Lucas estava deixando o seminário. O seminarista Vidal, ficou em pranto, pois era ele quem ganhava as roupas e sapatos de João Lucas, quando não mais queria usá-los. Chorou copiosamente. Fizeram uma fila, para que cada seminarista se despedisse, dando um abraço em João Lucas. Primeiro a abraçar foi o Padre Reitor, que fez uma declaração ao pé-de-ouvido do já ex-seminarista: ___ Você tinha tudo para ser um bispo. É inteligente e sua família tem posses.
Enquanto recebia os braços e cumprimentos, João Lucas lembrou do muito que apontou durante os quase seis anos vividos naquele seminário. Os votos: castidade, pobreza e obediência, ele nunca os viveu. Quando cursava o 3º ano de Filosofia, João Lucas e outro seminarista foram para á Praça Fausto Cardoso, reduto de meretrizes e michês, lá sentiram pela primeira vez o gozo, proporcionando pelas experimentadas mulheres de “vida fácil”. Pecando assim, contra o voto de castidade. O outro seminarista, que acompanhou João Lucas na noitada de prazeres carnais, foi julgado, condenado e expulso do seminário, sem direito de defesa, já João Lucas somente recebeu orientação do Padre Espiritual, para não mais cair em tentação. A luxúria era o forte de João Lucas, tinha ele seu próprio carro no seminário, usava só roupa de marcas e esbanjava a gorda mesada, que ganhava dos pais, comprando coisas supérfluas e freqüentando restaurantes de cardápios caros. Pecando assim, contra o voto da pobreza. Certa vez, Caetano Veloso, veio fazer um show na cidade, sendo João Lucas fã incondicional do cantor e compositor baiano, ele não mediu esforços para ver seu ídolo de perto. Depois de ser proibido de sair do seminário naquele dia, pelo Padre Reitor, contrariando as ordens do seu superior, não houve outro jeito, se não o de João Lucas pular o muro de cinco metros do seminário, para assistir ao show do autor de “Podres Poderes”. Pecando assim, contra o voto da obediência.
Tudo estava consumado. Alguns seminaristas ajudaram carregar as malas até o carro de João Lucas, que sem olhar pra trás, saiu em alta velocidade.
Quando chegou a casa dos pais, explicou o porquê da sua decisão de abandonar o seminário:

___ Lá é um lugar que tanto forma, como deforma.
Disse isso cabisbaixo. O pai de João Lucas lhe deu todo apoio, a mãe mostrou descontentamento com o acontecido. Tinha ela muito orgulho em dizer para as amigas, que seu filho era seminarista. Teólogo!
Aproveitou a reunião familiar e comunicou que iria morar no Rio de Janeiro, no apartamento da família, na Rua Marquês de Olinda, em Botafogo. Queria João Lucas investir na sua nova vocação, a de roteirista. Argumentou com os pais:
___ Nasci para escrever roteiros para cinema, é minha verdadeira vocação. Sou um homem para as letras, não para o altar.
E mostrou aos pais a sinopse de um filme de sua autoria, intitulado: Em nome dos Homens:
___ O filme tem como plot principal, a história de um padre que assume a homossexualidade durante a homilia, na missa de domingo!
Enfatizou João Lucas Feitosa de Brito.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

POESIA - COPACABANA: DENSA E OBSCENA








A vida
densa e obscena
tal qual a noite na Avenida Atlântica.
Copacabana de sonhos extraviados
de meninos e meninas de vida-fácil e
indomesticáveis.
Território habitado por gênios e doidivanas
onde compra-se e vende-se
contemplação de frente para mar.
Os ofídios estampados no calçadão
são geometrias do desejo oculto
de cada sexo disputado
dos cachês cobrados.
A polícia desonesta
não espera amanhecer
usurpar quem labuta
fere quem nada dar
implanta a droga no bolso
para condenar.
Copacabana sinônimo de mar.
Navegar neste mar-aberto
tende-se a naufragar
independentemente da beleza ímpar
de Copacabana.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

POESIA - AFLUENTE DESTINO


Na enorme casa do lado esquerdo do Paraíba do Sul,
escreve-se notícia verossímil.
Os cachorros a ladrarem insistentemente ao vento,
correndo atrás das lagartixas, que passeiam sorrateiramente
sobre muro alto que encobre a casa.
Diante do oratório, abarrotado de imagens sacras,
faço as orações,
peço perdão por tudo que fiz, faço e farei.
Não vou deixar de pecar, pois se constrói o homem
tendo como base o pecado.
Tenho de cima do terraço da casa uma visão privilegiada,

vejo o Rio Paraíba do Sul desaguando seu destino,
assisto a chegada e a partida de pessoas aglomeradas
que buscam esperança do outro lado do Paraíba do Sul.

sábado, 6 de setembro de 2008

POESIA - QUEIMA SANGUE

O pacto feito de sangue derramado, na encruzilhada por homem transformado.
Baralho dividido em partes iguais, para conquistar as forças sobrenaturais.
Não há poder fora de Oró, não se encontra alegria longe de Kinó porto seguro de Miró.
Livro aberto exposto em vitrine, lançado em oratório para jejuar lagrimas na marine.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

CONTO - A SOMA DOS PERDIDOS

Este conto foi escrito em 1991 e faz parte do meu livro As Dores do Mundo.

A SOMA DOS PERDIDOS
Quase nada sabia-se da vida do Professor Dr. Marcus Aureno. Que ele lecionava Anatomia Humana, na Faculdade de Medicina Sameiro, na Rua Sorocaba, em Botafogo, todos sabiam. Também que ele morava, na Rua Prudente de Morais, em Ipanema, todos tinham conhecimento. Mas o que pouquíssimas pessoas, tinham informação, é, que ele era homossexual enrustido.
Os jornais cariocas, amanheceram trazendo a mesma manchete: - MÉDICO CONCEITUADO DEPOIS DE MATAR GAROTO-DE-PROGRAMA SE ENTREGA A POLÍCIA. Seus amigos, colegas de profissão e todos que o conheciam, ficaram atônitos com a notícia. Pois o Professor Dr. Marcus Aureno, 40 anos, solteiro, natural de Vitória do Espírito Santo, porém desde os sete anos de vida morava no Rio de janeiro. Era ele unanimidade, no que se dizia em respeito ao caráter, inteligência e bondade.
Em depoimento ao delegado, o médico narrou sua história em um monólogo.
Tudo começou quando eu conheci Lauro, na Rua da Constituição, esquina com a Praça Tiradentes, ele estava em frente de um ateliê que faz todos os tipos de tatuagens. Não sei porque, ele olhou para mim, e perguntou-me, se eu pagaria para que o tatuador fizesse uma bonita tatuagem no seu braço. Como médico, quis mostrar-lhe os danos irreparáveis que uma tatuagem, pode trazer à vida de uma pessoa. Conversa vai conversa vem. Quando dei por mim, estávamos sentados à mesa de um barzinho na Rua Imperatriz Leopoldina, onde ouvia-se músicas de Roberto Carlos, repetidas vezes, só “As flores do jardim da nossa casa”, ouvi quatro vezes. Ele contou-me que tinha 23 anos e recentemente havia chegado na cidade, vindo de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e ganhava dinheiro fazendo programas com mulheres. Não negarei que aquela conversa deixou-me excitado, a beleza dele era encantadora e sua presença fazia com que eu criasse fantasias na minha cabeça. De imediato convidei-o para dormir no meu apartamento, sem pestanejar ele aceitou o convite e disse que já não suportava mais dormir nos hotéis de quinta categoria da redondeza. Seus olhos infinitamente azuis, mereciam coisas melhores. Concluiu ele, se narcisando diante do enorme espelho na parede do barzinho. Ao chegarmos no meu apartamento, percebi nos seus olhos, o deslumbramento que o ambiente estava lhe causando. Após o jantar a luz de velas, nos entregamos um ao outro. Depois do ato de intimidade, ele se ofereceu para pegar algo para nós bebermos, no bar da sala. Como estava ele demorando por demais resolvi ir atrás dele, para minha maior surpresa, ele estava revirando toda a sala em busca de jóias e dólares. Assustado com a minha presença, com uma faca na mão ele começou a me ameaçar, aquela cena deixou-me completamente entontecido. Tomado por alguma força, que eu próprio desconhecia dentro de mim, comecei a travar com ele uma luta corporal. E o fim da história, o delegado já conhece, durante a luta ele tentou me empurrar pela janela do oitavo andar, onde moro, e o feitiço virou contra o feiticeiro. Ele foi e eu fiquei pra contar a história.
No julgamento, o Professor Dr. Marcus Aureno foi absolvido. A morte do garoto-de-programa, não houve culpabilidade por parte do médico, sentenciou os jurados.