domingo, 10 de fevereiro de 2008

CONTO - A VERNISSAGE DA EMBAIXATRIZ

O conto, hora postado, acabou de sair do forno. Comecei a escrevê-lo por volta das 11:15hs e fiz a conclusão neste momento que postei.

A VERNISSAGE DA EMBAIXATRIZ

Todos os condôminos do luxuoso edifício Chopin, na avenida Atlântica, no bairro de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, achavam estranhíssimo que a embaixatriz Anna Beatriz Victorinne Albuquerque Diniz, não mais era vista no roll do edifício, ou passeando no calçadão como era hábito da viuva idosa.
Claudete, empregada doméstica há mais de dois anos da embaixatriz, é que circulava diferentemente de noventa dias atrás, época do desaparecimento da embaixatriz Anna Beatriz do meio social. A empregada parou de usar uniforme, só vestia roupas de grife, andava elegantemente e perfumada, chamando a atenção de todos, dando margem a comentários maldosos.
A desconfiança aumentava a todo instante, houve até rumores de que a empregada havia matado a embaixatriz e ocultado o cadáver. Esta possibilidade foi somente descartada porque o gerente do banco onde a embaixatriz era correntista, assim como vários moradores do Chopin, garantiu que constantemente falava via telefone com a embaixatriz Anna Beatriz, para dar a ela ciência das suas aplicações financeiras. A embaixatriz era dona de uma estimável fortuna.
Alguns condôminos tentaram visitar a embaixatriz em seu apartamento, mas não obtiveram êxito na empreitada, pois foram impedidos pela empregada Claudete. Desta forma, as especulações cresciam ainda mais em torno do desaparecimento da ilustre moradora do Chopin. A situação ficou mesmo insustentável, quando foi marcada uma assembléia extraordinária para os condôminos proprietários, com o intuito de forçar o comparecimento da embaixatriz. Porém, para o espanto de todos os presentes, quem apareceu foi a empregada Claudete, exibindo uma procuração assinada pela embaixatriz, dando-lhe plenos poderes de decisão.
Muitos se recusaram a deliberar com a empregada, e se retiraram da assembléia. Quem mais atacou Claudete com palavras, foi a juíza de direito Dr.ª Maria Pureza Fagundes.

___ Você é uma negra muito da abusada! Como ousa querer participar da nossa assembléia? Exclusivamente para condôminos proprietários, não vê que você não passa de uma simples empregadinha. Sei que tem algo muito de podre, por de trás do desaparecimento da minha querida amiga, a embaixatriz Anna Beatriz, e seja lá o quer for, sei que tem o seu dedo infecto nessa história. Eu vou descobrir o que aconteceu, e quando eu descobrir, vou colocar você na cadeia. É na cadeia que gente como você tem que apodrecer.

Foi um golpe doloroso para a empregada Claudete ouvir aquelas ofensas sem poder se defender. Saiu da sala de reuniões desolada e chorando descontroladamente.
Após uma hora do ocorrido na sala de reuniões, o síndico ligou para os condôminos convidando-os para se reunirem novamente, pois o mistério do desaparecimento da embaixatriz havia sido desvendado. Cada um dos condôminos, que ia chegando à sala de reuniões, ficava perplexo com a presença da embaixatriz Anna Beatriz Victorinne Albuquerque Diniz.

___ Estou estarrecida, envergonhada com o comportamento de vocês para com a minha secretária e amiga Claudete. Tudo porque ela estava cumprindo uma ordem minha; de não deixar, em hipótese alguma, que eu fosse incomodada durante noventa dias. Precisei me isolar de tudo e de todos para criar novos quadros, pois recebi um convite para fazer uma vernissage em Davos, na Suíça, e quando eu estou em processo de criação, é fundamental que eu esteja apenas comigo mesma, meu atelier só é freqüentado por mim durante este período. Eu sei, que vocês não sabiam desta minha paixão pela arte plástica, mas nada, absolutamente nada, justifica vocês humilharem e suspeitarem da coitada da Claudete, só porque ela passou a usar roupas chiques dadas por mim. Portanto, peço, melhor dizendo, eu exijo que vocês façam uma retratação neste momento a Claudete.