domingo, 17 de fevereiro de 2008

CONTO - A GEOGRAFIA DO VENTRE

Este conto é parte integrante do meu livro: AS DORES DO MUNDO.

A GEOGRAFIA DO VENTRE


Era hábito da professora Carmem Toledo, após dar sua última aula de Geografia, no Colégio Brava Gente, localizado na Rua da Assembléia, ela se dirigia à Estação das Barcas, para fazer a travessia da Baía de Guanabara, somente assim ela chegava em Niterói, onde morava.
Grávida de oito meses, a professora Carmem, já estava a bordo da barca, sentada no lado direito, quando de forma inusual, um homem elegantemente bem vestido, aparentando ter 40 anos, dela aproximou-se e lhe entregou uma maleta de couro marrom, demonstrando muito pueril no olhar e com a voz tremula falou com a professora:

___ Aqui dentro desta maleta, tema a solução de todos seus problemas. Pode usar a metade, a outra metade um dia você me devolverá.

Antes mesmo que Carmem pedisse explicação, o dito homem se levantou e saiu, desaparecendo entre os passageiros, por ser hora do almoço a barca estava completamente lotada.
De repente ouvi-se tiros, vários tiros, uma lancha em alta-velocidade, tenta se emparelhar com a barca, quando acontece das duas embarcações ficarem lado-a-lado, alguns homens da lancha pulam para a barca. Com revólver em mãos, eles vasculham cada centímetro da barca, deixando claro que estavam a procura de alguém ou alguma coisa.
O pânico toma conta de todos os presentes: gritos, desmaios e passageiros desesperados que pularam na baía. Finalmente, os homens aramados encontraram o alvo, estava ele escondido na casa das máquinas. Era o tal homem, de quem a professora Carmem recebera a maleta marrom. Depois de ser terrivelmente torturado, na presença de todos, o homem confessou que tinha dado a maleta para uma passageira grávida, mas que ela nada tinha haver com ele, pois ambos nunca tinham se visto. Ele aponta com a mão para Carmem, e os homens armados vão até ela, e pegam a maleta que estava no seu colo. Com a maleta em posse, os homens armados, diante dos olhos dos passageiros executa à sangue-frio, o homem elegantemente bem vestido. Em seguida jogaram seu corpo na Baía de Guanabara. Terminada a cena hedionda, os homens armados voltaram para a lancha e forma embora em alta-velocidade.
Ao chegarem na Estação de Desembarque, em Niterói, os passageiros ficaram detidos, para que a polícia submetesse-os a um interrogatório. Com exceção da professora Carmem, depois de algumas horas todos foram liberados. Os policiais queriam saber de Carmem, o porquê do tal homem, entre todos os passageiros, foi escolher logo ela para dar a maleta: uma mulher grávida, professora de geografia. Porquê? E o que tinha na maleta? Carmem não deu resposta para nenhuma das perguntas dos policiais, limitou-se em dizer:

___ Eu não sei de nada, sou vítima dessa história. Assim como para os senhores, tudo isso para mim é incógnita.

Depois de fazer a declaração, sentiu fortes dores e entrou em trabalho de parto, trazendo ao mundo uma bonita criança do sexo feminino. Por não suportar tanta pressão por parte dos policiais e pela a precariedade das condições em que deu à luz, a professora Carmem morreu. Seu marido, que era taxista no ponto da Rua da Conceição, Centro de Niterói, recebeu a notícia, tomado por uma dor profunda, foi reconhecer o corpo da esposa do IML e em seguida conhecer seu filho recém-nascido na maternidade.
Cinco dias passados do ocorrido, a polícia concluiu as investigações. A professora Carmem Toledo, era amante do tal homem elegantemente bem vestido, que chamava-se Haroldo Benfica, assaltante de carro-forte, que tentou passar à perna no chefão da organização – PHG – facção criminosa a qual ele pertencia. Após um assalto bem sucedido, Haroldo Benfica só repassou 20% do dinheiro roubado, os 80% estavam na maleta marrom.