sexta-feira, 10 de junho de 2016

ACIMA DO ILUSÓRIO

Eu passei muito tempo da minha vida tentando descobrir se eu era um escritor. Então, depois de um longo tempo de busca, me reconheci como escritor. Após este feito, passei muito tempo tentando descobrir que tipo de escritor eu era. E esta resposta me foi dada pelo renomado professor e crítico literário Péricles D'avila: "Você é um escritor sentimentalista. Tem uma verve literária extraordinária, mas é um escritor sentimentalista". Não obstante, ele ainda me fez esta ressalva: "Sentimentalismo está em desuso na literatura, virou clichê". Por mais absurdo que possa parecer para alguns, eu afirmo e reafirmo: eu escrevo para mim mesmo ou para satisfazer algo que há dentro de mim, que eu desconheço. Portanto, não fico me agarrando às estratégias mercadológicas das quais se apoderaram as editoras. Eu não me apego às regras literárias. Eu me agarro à idéia de escrever unicamente para o sentimento que vive permanentemente aflorado em mim. Não escrevo para ganhar dinheiro, escrevo para expor meus sentimentos. Creio, piamente, que não pode haver literatura sem sentimento. Aliás, sem sentimento não pode haver a criação de nenhum tipo de arte, porque a arte nasce daquilo que sentimos. Não há mesmo outra forma de criar arte sem ser pelo viés do sentimento. A prova cabal desta irrefutável verdade está neste verso do magnífico poeta português Fernando Pessoa: "Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir". É tão óbvio que sem o sentimentalismo tudo é inadequação, que se pode confirmar, categoricamente, que nem mesmo acima do ilusório o sentimentalismo perde a essência da ação criadora da arte. O cerne de toda criação da arte é extraída da imaginação do autor. Esta imaginação é aguçada pelo sentimento acometido de uma inesgotável sede de criar. Albert Einstein afirmava que "Imaginação é mais importante do que conhecimento. Conhecimento é limitado. Imaginação abrange o mundo". Da minha vida posso dar um verídico testemunho: não consigo enxergar meus dias, humanamente falando, sem literatura, seja ela ficcional ou religiosa. Não há um dia sequer em que eu não leia e escreva. E não leio e escrevo por obrigação, faço as duas coisas diariamente por prazer. O menestrel do modernismo, Mário de Andrade, costumava dizer: "Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi". É. Indubitavelmente, mesmo sendo eu um aprendiz do ofício de escrever, comungo com o menestrel do modernismo, Mário de Andrade, em número, gênero e grau. Ademais, sem titubear, posso afirmar: escritor e leitor é o que sou. Ser assim é o que me faz viver.   (Todos direitos reservados deste texto a Antônio Menrod. Este material não pode ser publicado, transmitido, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização)