quinta-feira, 16 de junho de 2016

ENSAIO SOBRE LIVROS

O erudito escritor alemão Hermann Hesse escreveu aquilo que eu considero a síntese perfeita da tradução da existência humana: "A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo". Há algo de intensa veracidade no meu viver: eu prefiro conhecer livros a pessoas. Não sigo, literariamente, estilos e nem escolas, o que me interessa é conhecer o livro. E todos que li descortinaram, no meu viver, um fascínio indescritível. Já as pessoas, quase sempre, são facas amoladas cortantes que dilaceram o meu ser. Portanto, mantenho-as bem longe de mim. E esta minha compulsão por livros e a sede por leitura estão em mim desde a puerilidade, quando aos meus oito anos, li, de cabo a rabo, o romance do escritor português Eça de Queiroz "O Crime do Padre Amaro". Aqui devo fazer uma divagação para dar testemunho da minha trajetória de leitor principiante: fiz a leitura do mencionado romance porque, com oito anos de idade, já era vocacionado ao sacerdócio e queria entender por que o "Padre Amaro" havia cometido um crime. Portanto, neste caso específico, escolhi lê-lo impulsionado pelo título e pela minha vocação ao sacerdócio. A partir de então, impelido pelas forças que regem a criação literária, livros e leituras fizeram parte da minha vida da mesma forma que o ar que respiro. Jacques Lacan, o psicanalista da linguagem (cuja obra toda já li), tem uma definição que retrata bem esta minha opção de me relacionar exclusivamente com livros: "A palavra escrita é uma elucubração, pois há estágio na vida que somente nos realizamos nas malhas da leitura". Nada me harmoniza mais do que fazer leituras diárias. Através destas leituras, eu povoo meu dia de pessoas imaginárias que sei muito bem quem são e o que farão. É neste universo que transito livre e não preciso usar armadura de defesa pessoal. O livro é tão essencial em minha vida que é praticamente impossível me verem sem que eu esteja portando um. Na terça-feira da semana passada, estava eu no Aeroporto, aguardando o horário de embarcar, quando me dei conta que havia esquecido de trazer comigo meu inseparável companheiro de todos os instantes: o livro. Sem pestanejar, adentrei na livraria do aeroporto e o primeiro livro que me chamou a atenção foi o que tinha como mote a vexilologia. Após fazer aquisição dele, deleitei-me com a leitura acerca da simbologia e o grafismo das bandeiras. O livro é isto para mim: um porto seguro, onde me encontro, onde me acho. Um rastro que sigo sem olhar para trás, porque sei que sempre me levará a um final feliz. Esta é minha relação com o livro: relação escancarada e solar. Perdão aos que não apreciam esta minha intimidade com ele. E para os que não comungam com meu pensamento, repito a frase do escritor estadunidense Walt Lippman: "Quando todos pensam igual, é porque ninguém está pensando".   (Todos direitos reservados deste texto a Antônio Menrod. Este material não pode ser publicado, transmitido, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização)