sábado, 23 de julho de 2016

 A LÁGRIMA CLARA SOBRE A PELE ESCURA

De todas as intolerâncias a mais abominável delas é o racismo. Somente pessoas parvas praticam discriminações por causa de cor da pele. É inconcebível que, nos dias de hoje, onde o mundo todo cabe na palma das nossas mãos através das novas tecnologias, ainda nos deparemos com cenas horrendas de racismo.  Esta semana, infelizmente, fui espectador de um episódio grotesco, dentro de um supermercado da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, que mais me pareceu um reboot das tristes histórias vivenciadas outrora no Brasil. Pasmem: uma senhora, com idade presumível de setenta anos, elegantemente vestida com exímio bom gosto, por discordar da demora do andamento da fila (que deveras estava andando a passo de tartaruga) foi até o checkout do caixa e mandou chamar o gerente. Não demorou muito para um rapagão destemido de raça negra e de beleza estonteante se apresentar como subgerente do supermercado, uma vez que o gerente estava em horário de almoço. Depois de ouvir os queixumes da cliente reclamante, o subgerente, de maneira afável, pediu desculpas pelos transtornos e fez todos da fila ficarem cientes de que, por ser um horário de pouco movimento no supermercado, alguns checkouts estavam fechados porque as operadoras das caixas registradoras estavam em horário de almoço. Após o subgerente dar as devidas justificativas, a cliente reclamante que não aceitou o pedido de desculpas e muito menos as justificativas do subgerente, começou a debulhar uma série de impropérios com forte teor racial. Ela começou a alardear, aos gritos, entre tantos outros absurdos impublicáveis, que não era à toa que ele era um incompetente e um reles subgerente de supermercado, pois por ele ser preto, nasceu para estar abaixo, ser capacho, ser pobre e ser favelado. Diante daquela insólita cena, não somente o jovem subgerente ficou cético, como todos nós que estávamos na fila, ao ponto de sairmos em defesa do subgerente, que ouviu todas as ofensas gratuitas sem alterar seu comportamento de fino trato. Depois que percebeu que lágrimas escorriam no rosto do subgerente, um dos clientes da fila ligou para o 190 e solicitou uma viatura com policiais. Carl Jung nos ensina, através dos seus escritos, que: "um homem saudável não tortura os outros. Em geral, é o torturado que se torna o torturador". Ficou nítido para todos nós que aquela senhora trazia consigo problemas de complexos psíquicos que mexiam com suas emoções e manifestava desafios de enfrentamento pessoal. Entretanto, a atitude da mencionada senhora racista extrapolou todos os limites da compreensão humana. Assim que os policiais chegaram ao supermercado e ficaram cientes do fato ocorrido, sem mais delongas, levaram na viatura a senhora autora da prática racista e o subgerente do supermercado que fora vítima de racismo para registrar, na delegacia, a queixa crime do ato sofrido. Nunca é demais fazer lembrar que o crime de racismo é inafiançável e abominável. E, não obstante, de forma categórica e peremptoriamente, devemos repudiar veementemente, com incomensurável indignação, qualquer insinuação ou ilação à prática de tal crime. (Todos direitos reservados deste texto a Antônio Menrod. Este material não pode ser publicado, transmitido, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização)