sábado, 9 de julho de 2016

NEM OS ANJOS TÊM AO CERTO A MEDIDA DA MALDADE

Em seu livro "A origem das espécies", Charles Darwin escreveu: “O homem, em sua arrogância, pensa de si mesmo como uma grande obra, merecedora da intervenção de uma divindade". Ao ler essa frase lembrei-me, simultaneamente, de um indivíduo que eu conheci outrora, na cidade de Codó, no estado do Maranhão. O que narrarei aqui não se trata de um onirismo, mas sim de alguém real, que atendia pelo nome de Aparecido.  Aparecido, para os desprovidos de conhecimento da sua verdadeira face, se passava por um católico fervoroso acima do bem e do mal. Todos os santos dias, com sua peculiar iniquidade, mesmo que chovesse canivete, não abria mão de participar da celebração da santa missa. Para ser visto por todos os demais presentes, sempre se sentava na primeira fileira dos bancos da Igreja. Na hora de receber a comunhão, tomado por um suposto zelo piedoso, com o terço da Virgem Maria entre as mãos postas, entrava na fila como se fosse o homem mais imaculado da Terra. Em sua visão distorcida de entendimento, contrário do que nos ensina o Catecismo da Igreja, para Aparecido, ajoelhar-se no confessionário para confessar os pecados a um Padre era para os pecadores. Não era coisa para ele, que tinha plena convicção da sua pureza de corpo e alma. Mas quem o conhecia na intimidade, sabia que ele era a personificação de um lobo em pele de cordeiro. Aparecido fazia desagregação entre seus pares. Praticava maledicência sem dó nem piedade. Diariamente, fazer futricagem da vida alheia era o seu deleite. Enfim, não passava de um autêntico sepulcro caiado, tal qual está descrito por Jesus Cristo no Evangelho segundo São Mateus. Poucos tinham conhecimento de que ele era exacerbadamente materialista. Apesar de viver cercado de imagens de anjos, santos e santas de Deus, somente o vil metal era o que lhe causava devoção desmesurada. Dentre tantos transtornos psíquicos que caminhavam lado a lado consigo, sua vaidade aos extremos estava impregnada da cabeça aos pés. Fui testemunha ocular e auditiva destas afirmações proferidas pelo próprio Aparecido: “- Ninguém se veste tão bem quanto eu. Ninguém escreve textos literários tão bem quanto eu. Ninguém é tão magnânimo quanto eu. Ninguém é tão temente a Deus quanto eu. Ninguém consegue fazer nada melhor do que eu, quando me proponho a fazer.” E assim sendo, Aparecido era o retrato vivo da  prepotência, da falácia, da hipocrisia, da arrogância, da presunção, da leviandade e do desamor ao próximo.  E assim viveu Aparecido, envolto em toda sua egocentricidade. E por tê-lo conhecido de tão perto é que posso afirmar, em gênero, número e grau: nem os anjos têm ao certo a medida da maldade que um ser humano é capaz de praticar. (Todos direitos reservados deste texto a Antônio Menrod. Este material não pode ser publicado, transmitido, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização)